Para discutir, explorar e dominar o futuro, é preciso deixar de lado as ferramentas do passado. Mas como fazer isso?
Uma famosa frase atribuída ao escritor William Gibson, autor de Neuromancer, diz que “o futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído”. No Digital Commerce Experience (DCX), evento realizado em 19 de agosto de 2019 pela VTEX em São Paulo, essa realidade ficou muito clara.
Para Tiago Mattos, co-fundador do Aerolito, laboratório de desenvolvimento de tecnologias exponenciais e único sul-americano docente da Singularity University, para discutir o futuro (mesmo o que já se faz presente) é preciso utilizar novas ferramentas. Afinal, quem não pensa sobre o futuro resolve o presente com as ferramentas do passado e corre um grande risco de se tornar obsoleto por causa das transformações do mercado. Para ele, quem não quer viver o passado precisa necessariamente olhar para o futuro e buscar novas formas de resolver os problemas e se relacionar com os clientes.
O problema é que não existem aulas de “como enxergar o futuro”. Futuro é algo que se constrói. E ao construir o futuro, empresas estão criando, hoje, revoluções que você pode nem ter percebido, mas que poderão mudar sua vida e seus negócios.
A substituição sensorial pode ajudar a resolver problemas como compulsão alimentar ou excesso de peso. A americana Kikori desenvolveu um aparelho de Realidade Mista que conta com um odorizador. O usuário pode estar comendo, por exemplo, algas, mas vendo e sentindo o aroma de um hamburguer suculento. Outro exemplo é o Glyph, uísque feito pela Endless West a partir do escaneamento do código molecular da bebida: em vez de usar malte, centeio e água, manipulam-se átomos para criar a bebida.
Grande parte da força do setor de moda vem do fast fashion, que se baseia na criação de coleções muito rápidas e padronizadas. Um modelo de negócios que não funciona para qualquer tipo de pessoa. Procurando alcançar clientes mais altas, cheinhas, baixinhas ou magras, a MTailor escaneia seu corpo a partir do seu smartphone para tirar as medidas em apenas 30 segundos, com 20% mais precisão que o tradicional alfaiate. Já a Nanocure desenvolve tecidos que se consertam sozinhos e amplia a vida útil das roupas.
Com o desenvolvimento da tecnologia, faz menos sentido contratar um empréstimo em um banco tradicional, uma vez que mais empresas têm condição de desenvolver sistemas de scoring e conseguir dinheiro via crowdfunding. Esse conceito, chamado de P2P Lending, está por trás da criação de várias startups em todo o mundo. No Brasil, a gestora de RH Xerpa desenvolveu o Xerpay, um sistema que permite que os colaboradores saquem seus salários no dia em que quiserem (na prática, é um empréstimo para antecipação do salário). Já o Upstart é um marketplace que, baseado em crowdfunding, conecta pessoas que precisam de dinheiro a quem está disposto a emprestar.
As redes sociais transformaram a forma como as pessoas se relacionam. Mas a coisa não acaba por aí. O próprio Facebook está trabalhando na próxima geração, que agrega Realidade Virtual para criar ambientes mais imersivos de comunicação. Já o Facebook Codec Avatar é outra iniciativa da empresa, que escaneia o rosto das pessoas e cria avatares que são idênticos às pessoas reais. A conclusão é que, quando as redes sociais oferecem uma experiência de socialização igual à vida, as pessoas ficarão mais tempo mergulhadas nesse ambiente. Talvez não nós, mas quem sabe a próxima geração?
Já no ano que vem, uma empresa chamada Neuralink, fundada por um certo Elon Musk, quer começar a vender chips cerebrais para seres humanos. A integração cérebro-máquina tem o potencial de restaurar funções sensoriais e motoras e contribuir no tratamento de desordens neurológicas, mas também pode acelerar a absorção de conhecimento, como no filme Matrix. Steven Hoffman e Miguel Nicolellis são cientistas famosos por trabalhar com experimentos neurológicos que levam em conta o fato de que tanto o cérebro quanto microchips trabalham com eletricidade.
O futuro é cada vez menos previsível e, com isso, as ferramentas que nos trouxeram até aqui não asseguram o sucesso. Para as organizações, isso significa construir o big hit do futuro sem perder o big hit do presente: é criar a nova geração sem abandonar o presente. Tudo o que está estabelecido (tecnologias, processos, sistemas) tem valor decrescente ao longo do tempo e, para fugir dessa perda de valor, é preciso inovar sempre.
Essa inovação parte da liderança, que precisa estar orientada para o futuro, uma vez que a forma como as pessoas imaginam o amanhã muda as vidas hoje. Assim, não é preciso ver o que existe hoje, e sim as possibilidades. Sair do que é concreto e sonhar o abstrato. Como disse a Dra. Mae Jamison, primeira astronauta afro-americana a ir para o espaço: “nunca se deixa limitar pela imaginação limitada das outras pessoas”. Em vez disso, o líder deve inspirar e criar a visão de que as possibilidades são ilimitadas, por mais improváveis que sejam.