As vendas do varejo passam por diversos ciclos. Há variações ao longo do dia: em muitos negócios, a hora do almoço é a de maior movimento; em outros, o fim de tarde. Essas mudanças se somam às variações ao longo da semana, já que, normalmente, o fluxo de clientes aumenta de sexta a domingo. Durante o mês também é possível perceber um ciclo de vendas: em muitas categorias, com picos logo após os dias 5 e 20 (tradicionais datas de pagamento dos funcionários), embora o aumento do uso de cartões de crédito mude essa dinâmica. Também há mudanças de mês a mês, com a maior parte das categorias do varejo concentrando de 30% a 40% do faturamento entre novembro e dezembro.
Em uma perspectiva ainda mais ampla, existem anos que são diferentes, impactados por eventos especiais. A Copa do Mundo, por exemplo, funciona como um gatilho para a troca de equipamentos eletrônicos e o horário das partidas tem um forte impacto sobre bares, restaurantes e supermercados. As Eleições também causam um efeito sensível sobre o varejo, muito mais pela expectativa de mudanças ou de manutenção do rumo, que podem estimular a antecipação de compras ou o adiamento delas para depois do período eleitoral.
O ano de 2018 foi bastante especial nesse sentido: depois da maior recessão da história do País, que levou o e-commerce a ter um crescimento de apenas um dígito em 2017, expectativa e realidade bateram de frente, trazendo, respectivamente, momentos de animação e resignação. Com isso, o período eleitoral representou uma boa oportunidade para os varejistas que estavam preparados.
Analisamos a base de dados da VTEX, que movimenta aproximadamente 20% do faturamento do e-commerce brasileiro, e pudemos chegar a algumas conclusões interessantes. Antes das conclusões, porém, algumas informações básicas:
– comparamos os pedidos por loja e o tíquete médio em três períodos distintos: antes do primeiro turno das eleições de 2014 e 2018, entre o primeiro e o segundo turnos, e após o segundo turno;
– fizemos a mesma análise entre 2017 e 2018, para entendermos a variação típica de um ano com eleições X um ano sem eleições;
– no caso de 2017, as datas consideradas foram as equivalentes às dos anos com eleições;
– removemos, nas análises, os 20 dias anteriores à Black Friday, em que existe um forte impacto da data promocional sobre as vendas.
Com isso, verificamos que, em 2014, o número médio de pedidos diários nas lojas subiu entre o primeiro e o segundo turno, voltando praticamente ao nível anterior após o resultado das eleições (que, naquele ano, confirmaram a reeleição de Dilma Rousseff). O tíquete médio também teve uma elevação muito pequena (apenas 3%), confirmando um cenário de normalidade naquelas eleições.
Em 2017, o número médio de pedidos ficou estável ao longo de todo o período, sem nenhum fato externo que pudesse gerar alguma disposição extra de consumo. O tíquete médio, por sua vez, veio em declínio ao longo de todo o período, devido à soma de dois fatores: o desempenho ruim da economia e o represamento das compras devido à Black Friday que aconteceria no final de novembro. No total, a queda na venda média foi de 12%.
Já em 2018, partindo de um cenário menos favorável no pré-eleições (devido ao cenário econômico do País), o número médio de pedidos saltou 12% após as eleições, indicando um sentimento de satisfação com a vitória de Jair Bolsonaro. O tíquete médio, por outro lado, recuou 7%, mostrando que não havia espaço para consumir demais. A Black Friday, cerca de um mês após o segundo turno, e muito mais relevante para o varejo do que em 2014, também teve um efeito de represamento de compras de maior valor agregado.
Os números mostram que o resultado das eleições de 2014 não trouxe expectativa para o mercado. Em 2018, por outro lado, a expectativa de melhora da economia estimulou o comportamento de compra dos consumidores. Dessa forma, o resultado das Eleições puxou, efetivamente, as vendas do e-commerce neste ano.