Um dos grandes desafios do varejo de bens duráveis é o custo de carregamento do estoque. Especialmente em categorias com grande sortimento e baixo giro, o processo tradicional de comprar produtos, estocá-los e somente então encontrar compradores para eles não faz tanto sentido. Quando a loja física funciona como showroom ou quando existe a necessidade de entrega em um prazo curto, o estoque viabiliza o atendimento ao cliente e a venda por impulso.
Mas e quando se trata de uma compra online de um item que pode ser entregue em alguns dias, como é o caso de móveis e decoração? Nesse caso, vale a pena analisar a possiblidade de contar com o cross docking como uma estratégia logística.
No modelo de cross docking, a mercadoria sai do fabricante, chega ao Centro de Distribuição do varejista e já é despachada para o cliente, permanecendo no CD pelo menor tempo possível. Para que isso seja possível, é preciso planejar a distribuição e desenvolver processos em sincronia, para que os lead times da operação logística sejam reduzidos, se possível, a zero. Assim, o produto chega do fornecedor e é imediatamente encaminhado à loja (ou ao cliente).
Os principais benefícios obtidos com uma estratégia de cross docking são:
– entregas mais rápidas, uma vez que os produtos ficam parados por pouco tempo no estoque do CD;
– redução de custos, pois a estratégia reduz a necessidade de armazenamento de produtos;
– diminuição da estrutura logística, já que, com menos produtos em estoque, diminui a necessidade de espaço físico;
– minimização de danos aos produtos, já que existe menos manuseio das mercadorias;
– adequação a regiões com restrição de trânsito de caminhões, já que a carga pode chegar ao CD em veículos maiores e ser transportada para veículos menores, que atendam à legislação;
– possibilidade de aumento do sortimento oferecido no e-commerce, uma vez que os produtos não precisam ser previamente colocados em estoque;
– aumento da eficiência no uso dos caminhões e no aproveitamento do seu espaço de carga.
Nem tudo são flores no cross docking, porém. Os varejistas que optam por essa estratégia precisam vencer uma série de desafios para que possam obter bons resultados:
– é preciso ter muita sincronia entre todos os envolvidos. Tecnologia é fundamental para automatizar os processos de retaguarda, garantir a integridade dos estoques e aumentar a eficiência da operação;
– é preciso ter controles bastante estritos e processos muito bem estabelecidos, pois qualquer atraso pode gerar acúmulo de produtos e impossibilitar a correta execução da estratégia;
– planejamento e estudo prévios são fundamentais, já que o cross docking é uma forma de trabalho diferente do processo logístico tradicional e, com isso, será preciso treinar as equipes e conscientizá-las a respeito da importância de seguir à risca os processos;
– o desenvolvimento de rotas customizadas para facilitar a entrega traz uma complexidade extra ao cross docking;
– a comunicação e o relacionamento com os fornecedores e com toda a equipe de logística precisam ser excelentes;
– no Centro de Distribuição, a separação da mercadoria certa para o destino correto passa a ser o momento de maior risco da operação.
O cross docking também demanda um acompanhamento eficiente de toda a distribuição dos produtos, do estoque do fornecedor à entrega no destino final. Registrar e lançar ocorrências em tempo real no sistema é importante para controlar o andamento das entregas. Outro aspecto positivo da implementação de sistemas e controles é a possibilidade de mensurar tudo o que acontece na logística, o que permite gerar Indicadores de Desempenho (KPIs) e estruturar projetos de melhoria contínua das operações. O resultado é o aumento da eficiência logística, com redução dos custos e impacto positivo na satisfação dos clientes.