Nas últimas décadas, as empresas tecnológicas tem apresentado um crescimento exponencial jamais visto em outros setores. A globalização tecnológica, impulsionada pela constante inovação e agilidade nos processos, trouxe desafios inigualáveis: Se você acompanha as notícias, lerá sobre a falta de engenheiros e profissionais qualificados para enfrentar os desafios crescentes do mercado. Existe uma disputa acirrada entre as empresas por talentos que possam agregar e ajudar no seu crescimento.
Seja uma grande empresa tecnológica ou uma pequena startup, todas as empresas desse setor estão enfrentando os desafios complexos do crescimento rápido.
Na VTEX, já é possível observar isso durante a nossa rotina. Estamos sempre à procura de mais oportunidades para aumentar nosso impacto na comunidade de ecommerce: novas áreas de produto, aquisições, expansão da equipe, a necessidade de lidar com a dívida técnica, o início das operações em novos países, além de novas sedes no mundo todo.
Um dos nossos maiores desafios, enquanto empresa de SaaS, está atrelado à captação e desenvolvimento da nossa densidade de talentos de engenharia. Sabemos que as empresas de engenharia não avançam naturalmente em direção ao crescimento, pelo contrário, seu avanço é voltado à complexidade.
Se deixamos de lado um comportamento deliberado quanto ao crescimento das nossas empresas de engenharia, involuntariamente aceitamos o fracasso.
“A mudança é inevitável. O crescimento é opcional.” — John Maxwell
Neste artigo, compartilharemos alguns dos desafios de crescimento que enfrentamos na VTEX e de que forma os encaramos.
Como engenheiro, já pode ter tido o privilégio de trabalhar em uma pequena organização, com um estreito grupo de engenheiros. A VTEX era uma dessas empresas nos nossos inícios. Com um grupo de quatro ou cinco engenheiros, no começo, tudo era muito mais fácil: nossa disposição era espetacular, havia uma comunicação excelente dentro da equipe, o engajamento do grupo era inigualável. Quando surgia um conflito, este era resolvido objetivamente; todos na empresa trabalhávamos no mesmo ambiente.
Alguns anos mais tarde, nossa equipe tem mais de 250 engenheiros e nossa meta é ampliar para mais de 400 profissionais até o fim de 2021. Com o passar dos anos, a principal dúvida foi: como fazemos para crescer sem perder a agilidade e o espírito de uma pequena empresa de engenharia?
Logo de cara, observamos que, conforme crescíamos, criávamos novos processos, procedimentos de gestão, normas e políticas. O que antes era fácil de resolver, agora ficou complexo. Nós trouxemos maior complexidade à nossa empresa. A primeira lição que aprendemos nesse processo é que, se não agirmos deliberadamente quanto ao nosso crescimento, quem pagará por isso será a nossa empresa.
Não é que não gostamos de que a organização tenha processos. Nós, pelo contrário, dependemos e muito deles. É necessário, no entanto, agir de forma deliberada nos processos criados para que não haja nenhuma folga organizacional. Não consegue identificar onde está a folga organizacional da sua empresa? Bem, nosso melhor conselho é: pergunte à sua equipe. É ela quem sabe onde há atrasos ou etapas dispensáveis.
Cadeia de comunicação: certifique-se de que seu processo de comunicação seja o mais linear possível. Coloque o responsável pela tomada de decisões à frente do pessoal com o conhecimento técnico. Evite camadas dispensáveis de comunicação. Reúna as pessoas certas. Pule os níveis internos da sua organização. Na VTEX, é normal que nossos engenheiros estejam à frente de nossos executivos, clientes ou parceiros. Queremos garantir que as pessoas certas participem do processo para tomar as melhores decisões.
Emancipação de gerentes de linha: preferimos usar a palavra “emancipação” ao invés de “responsabilização”. Esta reflete a ideia de “líder-seguidor”. Na VTEX, acreditamos na abordagem “líder-líder”. Aqui, cada um de nós é líder no trabalho que desempenha. Quanto aos líderes de engenharia, buscamos emancipá-los ao delegar autoridade, e não tarefas.
Eficiência do processo: nós eliminamos tudo aquilo que demonstre retardar o processo do grupo.
Faça a experiência de cancelar uma reunião, extinguir uma norma ou uma política. Repita esse processo várias vezes e você verá que toda a complexidade dispensável deixará de existir na sua empresa.
A necessidade por uma liderança dentro do departamento de engenharia cresceu proporcionalmente ao nosso crescimento. Na VTEX, a liderança é um ofício. Há duas rotas de liderança: a liderança técnica e a de pessoas. Para nós, ambas não representam apenas uma promoção, como também uma mudança profissional para nosso pessoal.
É importante nos perguntar se estamos dando o feedback adequado à nossa liderança de engenharia e, acima de tudo, se lhe damos segurança para fracassar. Junto com o crescimento, há um grande risco de fracasso. É com o rápido fracasso que podemos aprender rapidamente e ampliar nosso impacto na comunidade.
Periodicamente, nós, enquanto plataforma de comércio em rápido crescimento, passamos por incidentes no sistema, perdendo prazos de alguns projetos (além de projetos de engenharia) e subestimando a complexidade. Na VTEX, isso é parte da nossa jornada de progresso. É necessário então que a liderança intervenha para continuamente fomentar uma cultura de isenção de culpa, além do compartilhamento de aprendizados em toda a empresa.
Dedique-se à criação de líderes excepcionais porque são eles que tornarão a empresa excepcional.
Lembre-se: líderes incipientes impedirão que sua equipe cresça. Desenvolver a sua equipe de liderança é uma forma de desenvolver todos na empresa.
“Quando o líder progride, todos progridem juntos.” — Craig Groeschel
Processo
Lembra-se dos privilégios de trabalhar em uma pequena equipe de engenharia que mencionamos anteriormente? Para um engenheiro, é praticamente o paraíso: a indispensabilidade do processo é mínima. Os diálogos são informais. O mínimo de formalidade é o bastante para alcançar resultados incríveis. Sempre buscamos manter esses aspectos.
Conforme a VTEX crescia enquanto empresa, fizemos o possível para manter nossa empresa longe o bastante dos processos. Aqui, não lutamos contra os processos, mas sim contra os processos ruins. Sem processos escaláveis, sua empresa de engenharia recuará. Enquanto a sua empresa cresce, é importante garantir que haja processos nos quais você possa contar e que possam ajudar sua empresa a superar momentos difíceis. Se, nessas horas, você omite os processos, então é preciso revê-los. Quando se trata de processos em empresas de engenharia, é fundamental analisar as diferentes vertentes e considerar algumas perguntas:
Integração: em geral, as empresas de engenharia contratam de forma acelerada, mas quão simples é a integração de novos talentos à minha organização? Temos o pessoal necessário para treinar os novos colaboradores? Quanto tempo levará a integração? O que acontece no primeiro dia de trabalho de um novo funcionário? E no segundo? E no terceiro mês? Ter um processo de integração concreto é fundamental para o crescimento sustentável.
Integridade da equipe: não se trata apenas da viagem. Se trata de como você chegará lá. Se, na maior parte do tempo, a sua equipe trabalha sob extrema pressão, o resultado mais provável é o esgotamento. É necessário garantir a atenção à integridade da equipe.
Produtividade da equipe: quando sua equipe é composta por poucos engenheiros, é fácil identificar o impacto que ela provoca; no entanto, para equipes de 50, 100 ou mil profissionais, torna-se complexo acompanhar. Ajudar cada membro da sua equipe a explorar o melhor do seu potencial é desafiador, e definir práticas recomendadas acerca desse assunto pode fazer a diferença. Gostamos de ter algumas perguntas em mente, por exemplo: Como saber se estou explorando o melhor da minha equipe? Estamos preparando a equipe para o sucesso? Como identificar as oportunidades de crescimento para minha equipe? Dedicar um tempo para encontrar as respostas a essas perguntas pode ser decisivo ao definir a carreira dos membros da sua equipe.
Desenvolvimento do produto: engana-se quem acredita que nosso trabalho acaba após o lançamento do produto no mercado. Criar o primeiro produto mínimo viável ou MVP, na sigla em inglês, é uma etapa simples. A verdadeira questão é: como continuar a desenvolver seus produtos para atender às necessidades crescentes dos seus clientes? Como incorporá-las no desenvolvimento do nosso produto? Como é possível saber que nosso produto está atrelado à missão da empresa? Como garantir que nossa preocupação esteja centrada no operador comercial e que disponibilizamos recursos impactantes à nossa comunidade? Encontre as respostas a essas perguntas e você estará pronto para o desenvolvimento de sucesso do produto.
Não há um método infalível, um processo perfeito. Muito menos um framework que você possa simplesmente copiar e colar. Os processos são feitos por pessoas. Envolva a sua equipe para definir como explorar o melhor de cada vertente em sua empresa de engenharia. Lembre-se: não é possível conquistar ou que você não consegue definir. Na VTEX, gostamos de deixar claro como o sucesso se dá em nossa empresa nesses segmentos e planejar de forma retrospectiva.
“Comece com o fim em mente.” — Stephen Covey
Crescimento e conforto não andam de mãos dadas. Quando a empresa vive uma fase de crescimento rápido, precisamos estar confortáveis com o desconfortável. O que vem funcionando há anos pode deixar de funcionar. O que foi definido no último trimestre pode não ser o ideal hoje. Conforme Kim Scott afirma em Radical Candor, é necessário aderir ao desconforto. Há a tendência de adotar mentalidades prejudiciais durante jornadas de mudanças e crescimento. São essas estruturas de pensamento (soberba, aversão ao risco, desinformação e interpretação errada da realidade, disputa, estagnação) que criam empresas pouco saudáveis.
A mentalidade norteia a direção. Suas melhores ideias residem na sua mente. No livro Mindset: The New Psychology of Success, Carol Dweck destaca dois tipos de mentalidades: a mentalidade fixa, incapaz de mais de uma mudança, e a mentalidade de crescimento, que é flexível e adaptável. Na VTEX, promovemos uma mentalidade de crescimento, na qual: “Eu posso melhorar” ou “Eu não sou tão bom nisso… ainda”. Nós estimulamos o crescimento através da mudança.
Um bom exemplo disso é o fato de não exigirmos dos novos contratados experiência com alguma de nossas tecnologias. O aprendizado é parte do processo de integração. Para nós, um engenheiro de software com profundo conhecimento dos princípios de design e codificação obterá sucesso independentemente da linguagem de programação ou ferramenta.
Aprendemos com nosso novo status quo que as empresas, normalmente, não adotam a simplicidade como prática, mas pelo contrário, avançam para a um ambiente mais complexo. É necessário agirmos de forma deliberada, já que, com o crescimento, vem a complexidade e, com ela, interrompe-se o crescimento. Nós, como líderes, desempenhamos um papel fundamental ao ajudar nossas organizações a crescer com a mudança e deixar de lado toda complexidade desnecessária.
Não existe nenhum método infalível; nossa equipe de liderança dá o melhor de si para aperfeiçoar nosso processo e acabar com as folgas organizacionais. Quer saber mais? Realizaremos um webinar sensacional com líderes da VTEX, Google, Netflix e Shopify, no qual falaremos um pouco mais sobre nossos erros e lições aprendidas ao empreender em ambientes de rápido crescimento.
“As pessoas podem admirar seus pontos fortes, mas elas se identificam com seus pontos fracos” — Craig Groeschel
Helping people change – Richard E. Boyatzis
Radical Candour – Kim Scott
Coaching Agile Teams – Lyssa Adrins
Winning the war in your mind – Craig Groeschel
Mindset: The New Psychology of Success – Carol Dweck