“Como uma pessoa de Recursos Humanos virou Product Manager?” Ouvi muito essa pergunta. Por isso, resolvi contar como foi minha trajetória nesse movimento de carreira.
Em 2016 me formei em Engenharia de Produção e comecei minha vida profissional em Recursos Humanos. Porém, com o tempo foi ficando claro que não era exatamente aquilo que eu queria.
Por ser do RH, eu sabia que transições de carreira acontecem, mas quem me recrutasse pediria alguma experiência em tecnologia. Então, como fazer essa mudança?
Hoje vejo que não entrei em produto por acaso. Sem perceber, ainda no RH, construí um caminho que me levou para perto desse universo.
Primeiro, minha líder me passou um job voltado para People Analytics. Depois, fui responsável por um programa de desenvolvimento de Jovens Talentos relacionado com tecnologia e, vendo os projetos que eles iriam conduzir, comecei a perceber que eu gostaria de ter projetos parecidos. Também recebi a missão de rever todo o sistema de gestão de desempenho e avaliação da empresa e, para fazer essa mudança, usei como base os princípios do Design Thinking.
Esse processo de exploração e preparação foi riquíssimo em aprendizados.
Hoje, a maior parte das áreas tem discutido a necessidade de se reinventar. Foi aí que conversei com minha liderança e pedi para contribuir. Mesmo sem experiência na área, foi uma ótima chance de me arriscar a conhecer um pouco mais sobre tecnologia.
Se é preciso revisitar um processo, que tal repensá-lo, colocando o usuário no centro e adotando a perspectiva dele? Entrevistar pessoas para entender suas dores, construir a jornada desses usuários, conduzir workshops de ideação… boa parte de ser Product Manager é descobrir as reais necessidades do usuário e achar formas de resolver seus problemas. Nessa jornada, ganhei uma bagagem incrível.
Com criatividade, coragem e protagonismo, consegui me aproximar desses temas e, de quebra, impactar a área onde estava.
Criatividade é ter repertório! Eu criei a rotina de dedicar a primeira hora do meu dia para o estudo de metodologias, artigos e livros que pudessem me inspirar. Tem muita referência na internet, e você pode usá-las para propor ações na organização onde trabalha. Deixei uma lista ao final do texto.
Depois de já ter uma certa bagagem e ter conseguido entregar projetos legais no RH, passei a me envolver nas ações de tecnologia da empresa. No meu caso, existia uma área de Inovação e um grupo multidisciplinar que apoiava essa área.
Eu não trabalhava em uma empresa de tecnologia, então procurei as áreas que mais se aproximam do assunto. No meu caso, era essa área de Inovação que acabei de mencionar.
Passei a me engajar nessas ações e ajudar naquilo que Inovação precisava. Pela primeira vez, passei a ser associada com o tema não só no RH, mas em toda a empresa.
Se você trabalha em uma empresa que tem uma área de produto e quer fazer esse movimento, a dica é se aproximar das pessoas que trabalham lá. Chamar uma Product Manager para conversar e mostrar-se disponível para contribuir pode render bons frutos.
Outra iniciativa bem importante foi participar de eventos e cursos na área de tecnologia. Passei a fazer uma pós-graduação em Tecnologias Emergentes e a participar de diversas comunidades e meetups de produto.
Para quem ainda está começando a conhecer a área de produto, já existem vários cursos no mercado que vão te ajudar a se aprofundar no assunto.
Além disso, há várias comunidades para quem já está trabalhando com produto ou ainda não começou. É uma excelente oportunidade, não só para entender melhor sobre o assunto, como também para fazer networking com pessoas da área.
Depois de toda essa jornada apoiando as ações de Inovação da empresa e me dedicando a entender mais sobre o tema, eu estava próxima da gerente da área e já era vista como uma potencial candidata. E foi assim que surgiu a oportunidade: fui contratada pela área de Inovação.
Fazer uma transição de área e de empresa ao mesmo tempo é mais difícil. Por isso, procurei primeiro assumir uma posição em áreas ligadas à tecnologia no próprio local em que trabalhava.
Uma vez na área de Inovação, eu ainda não estava satisfeita. Naquele momento, eu já tinha meu objetivo traçado: queria mesmo era ser Product Manager.
Como já disse outras vezes, além de toda a dedicação, mais uma vez precisei contar com um pouco de sorte. A área de Data Analytics resolveu apostar naqueles algoritmos de People Analytics (que mencionei no início) como um potencial produto para o mercado.
Foram longos meses dedicados à validação daquele produto como uma oportunidade real de mercado. Mas eu ainda não sabia o que era ser Product Manager na prática e senti a necessidade de procurar referências no mercado.
Estudar sozinha pode ser muito útil, mas a teoria nem sempre é igual à prática. Por isso, ter mentoras que vivem o dia a dia de produto foi muito importante para lidar com alguns desafios reais.
O que eu fiz foi procurar no grupo do qual fazia parte, o Mulheres de Produto, alguém que topasse compartilhar comigo experiências reais. Achei duas mulheres incríveis que passaram a ser pontos de apoio quando eu tinha dúvidas.
Com a ajuda dessa rede, nesse momento eu ainda não levava o título, mas já era Product Manager.
Foi por meio de uma dessas mulheres que recebi um convite e dei mais um passo nessa transição.
Mas nesse ponto, nem sempre a sorte é necessária. Várias comunidades dão espaço para que as participantes que não são organizadoras oficiais encabecem ações. Por exemplo, depois de um certo tempo também me ofereci para ser uma das organizadoras do Clube do Livro das Mulheres de Produto. Depois de um tempo, fui convidada para ser uma das organizadoras do Product Tank em Curitiba.
Com as experiências internas e externas e com o tempo, eu passei a ser vista como referência em produto dentro da empresa e, apesar de estar curtindo muito aquela fase, achei que era hora de estar numa empresa em que a cultura de produto fosse mais madura.
Procurei estar numa empresa que me desafiasse a aprender cada vez mais sobre produto. Foi aí que encontrei a VTEX. A empresa está fortalecendo cada vez mais a cultura de produto com pessoas engajadas com o tema e com vontade de colocar a mão na massa.
No momento dessa escolha, uma coisa que me ajudou foi procurar os reviews sobre a empresa no Glassdoor e buscar no LinkedIn por pessoas que trabalhem com produto naquele local. Independentemente de tudo isso, o mais importante foi ser bem transparente no momento da entrevista.
Acredito que a área de produto se beneficia muito com pessoas em carreiras não óbvias e que deve ser um lugar para profissionais de diferentes backgrounds. Afinal, Product Managers precisam ter repertórios diversos para entender as necessidades dos nossos clientes e não correr o risco de viver na bolha da tecnologia.
Não posso deixar de ressaltar que a dedicação ajuda em boa parte da jornada, mas não basta. Sei que tive privilégios e acesso a oportunidades que muitas outras pessoas não tiveram, principalmente em um país cheio de desigualdades.
Por isso também acredito que é papel das empresas e lideranças buscar maior equidade, e seguirei estimulando ações para alcançarmos um mundo mais justo. Enquanto esse dia não chega, espero conseguir inspirar pessoas que estão buscando transições de carreira apesar das adversidades.
Artigos: Harvard Business Review, Medium, Startse, Product Talk, Silicon Valley Product Group, newsletter PM Letter e The BRIEF.
Podcasts de tecnologia: Hipsters Ponto Tech, Like a Boss, Do Zero ao Topo, TechStuff e Canary Cast
Podcasts sobre produto: Product Backstage, Papo de produto, Mulheres de Produto, Product Guru’s, JTBD+, The Product Podcast, Aurelius Podcast e Movimento UX.
Comunidades de produto: Product Tank, Mulheres de Produto, Women Techmakers, Product School, Mulheres Agilistas e GDG.
Se agora, depois de conhecer minha trajetória, você tem interesse em construir seu futuro em uma empresa engajada com a cultura de produto, onde o seu trabalho terá impacto mundial, acesse nossa página de Carreiras.